Os doces conventuais portugueses


Os doces conventuais portugueses

Acho que todo mundo já provou algum doce conventual na vida [no Brasil podemos dizer que até são comuns] mas vocês sabem a história acerca deste tipo de confeitaria? A base dos doces conventuais é sempre ovos + açúcar, mas algumas receitas vão variando com a junção de amêndoas, canela, hóstia, fios de ovos, marzipã e até vinho do Porto. Apesar de a base dos doces ser sempre a mesma, não significa que têm o mesmo sabor, já que a forma de preparo e outros ingredientes adicionados irão alterar a textura e também o sabor de cada doce. Como o nome já diz, esses doces foram criados por freiras que viviam em conventos e mosteiros em Portugal há alguns séculos atrás: entre os séculos 13 e 14 Portugal era um grande produtor de ovos e exportava as claras dos ovos para produtores de vinho branco [as claras são usadas como ‘purificante’] e além disso eram também utilizadas para engomar roupas dos ricaços daquela época e produzir as hóstias. E o que fazer com tanto excedente de gemas de ovos? Doces, ora.

Inicialmente as gemas iam simplesmente para o lixo ou até eram usadas para alimentação de alguns animais, eis que alguém decidiu juntar açúcar a estas gemas e iniciar a confecção do primeiros Doces Conventuais – já que naquela época o açúcar estava super em voga , pois chegava em larga escala a Portugal. Isso sim é que é local food, que tanto se fala hoje em dia: produzir com o que se tem em mãos – e que naquela época eram as gemas e o açúcar.

Já a partir do século 18 os conventos começaram a comercializar estes doces, como forma de gerar renda para seu sustento. As receitas de doces conventuais são passadas de geração a geração, é muito bonito ver como são fiéis às receitas e principalmente ao método de preparo: a maioria dos produtores ainda fazem os doces de forma artesanal, utilizando tachos de cobre e mantendo viva toda sua história e tradição.

Eis que a cidade onde morei por quase um ano em Portugal – Alcobaça – tinha enorme tradição em se tratando de Doces Conventuais, já que lá está o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça: sua construção de estilo gótico foi iniciada em 1178 e classificado como Patrimônio Mundial da Humanidade pela Unesco em 1989. Aliás, para quem gosta de história, pesquise sobre D.Pedro I e Inês de Castro: uma linda porém trágica história de amor….o túmulo dos dois se encontra na Igreja do Mosteiro de Alcobaça, já que Dom Pedro I nasceu em Coimbra [não tão longe de Alcobaça e escolheu o Mosteiro para abrigar seu túmulo e de sua amada, já que era a construção mais monumental da região naquela época]. Aliás tem um filme sobre essa história de amor, eu assisti e gostei bastante – AQUI o trailer.

Alcobaça tem ótimas e conceituadas Pastelarias [confeitarias] para se provar os doces conventuais – e as opções são muitas! Em 2018 o Mosteiro de Alcobaça foi palco da ‘XX Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais’: foram 4 dias de mostra onde pudemos degustar imensa variedade de doces conventuais, além de licores, compotas e alguns outros produtos tanto de Portugal quanto de expositores que vieram de outros países. Além disso, rolou um espetáculo de Videomapping lindíssimo, projetado na imensa fachada frontal do Mosteiro, contando brevemente a história dos doces conventuais: sensacional – sem sombra de dúvidas foi uma das coisas mais belas e interessantes que já vi na vida:

 

Eu fui 2 dias à Mostra [porque somente em 1 dia não foi possível provar tudo o que eu queria!] e aqui conto um pouco sobre algumas das mais conhecidas [e também minhas preferidas] variedades de Doces Conventuais

#PÃO DE LÓ DE ALFEIZERÃO

Um clássico da confeitaria portuguesa! Um bolo simples feito somente com 3 ingredientes: ovos, açúcar e farinha de trigo. Porém o clássico Pão de Ló de Alfeizerão possui o interior quase líquido – segundo a história, foi um erro que ocorreu quando uma cozinheira estava fazendo este bolo especialmente para a visita de um rei e, apressada, tirou o bolo do forno muito antes do tempo usual de cocção, deixando o interior líquido, mas mesmo assim o rei amou e a ideia pegou [rimou!].


#cornucópia

As Cornucópias são muito tradicionais em Alcobaça e eu as provei pela primeira vez na Mostra: uma massa finíssima, crocante e suave, recheada com um ‘simples’ e tão especial doce de ovos moles, finalizado com uma pitada de canela. Apenas incrível como os sabores se completam…


#brisas do liz

Este é meu doce favorito, no Brasil é o famoso Quindim, com apenas uma adaptação: o coco ralado – a receita original portuguesa utiliza amêndoas. Este doce foi criado na cidade de Leiria, onde corre o rio Lis – daí o nome. Confesso que prefiro a versão brasileira – amo coco! Na foto, é o doce à direita.


#queijinho do céu

Imagine um marzipã recheado com um maravilhoso doce de ovos. Acho que não é preciso dizer mais nada…


#bába real

Já que hoje em dia não se usa mais as claras de ovos para engomar roupas, algo precisa ser feito com elas, já que a produção de doces conventuais utilizando somente as gemas corre a todo vapor. Toda pastelaria em Portugal tem enormes e lindos suspiros. O Bába Real consiste em um suspiro molinho por dentro, bem rígido por fora e arrematado com doce de ovos moles e canela.


#gargantas de freira

Este doce de nome estranho é típico de Covilhã, feito com folhas de hóstia banhadas em calda de açúcar e recheadas com fios de ovos. Simples e delicioso – eu particularmente adoro fios de ovos! Aliás, a folha de hóstia é feita com as claras dos ovos!


#toucinho do céu

Uma espécie de bolo [por sinal, sensacional] que, além dos ingredientes base, leva também doce de gila [uma variedade de abóbora]. Veja AQUI  a minha receita de Toucinho do Céu.


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